Como advogados, somos sempre seres curiosos. A necessidade da pesquisa diária para a elaboração das peças jurídicas perfeitas e certeiras, nos obriga a garimpar.
Desde a formatura, recebimento do título de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, submetida ao severo exame da Ordem dos Advogados do Brasil, assumi a minha verdade: "Advogada de Carreira".
Destarte, jamais exerci outra profissão, a advocacia me contemplou sobremaneira com a consolidação de muitos sonhos. Evidentemente inenarrável o reconhecimento do nosso mister pela família e pelos estimados colegas de profissão, além de outras conquistas!
Muito jovem, pequena menina, mantinha um secreto desejo: "Ser poetisa"!
Mas, fascinada pela advocacia não logrei êxito e o sonho pueril se desfez como o sereno ao amanhecer.
A vida nos surpreende! Garimpeira, muito mais que advogada, certa feita, alegremente em fortuita conversa com colegas, e meus estimados e queridos funcionários da AASP, visualizei um pequeno livro que chamou-me a atenção. Solicitei prontamente o pequenino exemplar e me extasiei ao constatar que tratava-se de um livro de poesias, ora quem seria o autor? Sim, Ministro do Superior Tribunal de Justiça.
Livre-docente em Direito Processual Civil pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Juiz de Direito, Juiz dos Tribunais de Alçada Criminal e 1º Tribunal de Alçada Civil e Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo. Presidente Honorário da União Internacional de Magistrados, Roma(www.iaj.uim.org).
Theotonio Negrão fora poeta, amava elaborar sonetos, fossem de amor, saudades ou traquinagens.
Não! Como o Jurista renomado, autor do Código de Processo Civil mais brilhante e eficiente das últimas décadas acalentava no coração um espírito poético?
Permito-me, com a devida consideração e respeito, transcrever um trecho inserido na apresentação da obra "TODO HOMEM É UMA CONSTELAÇÃO" que descreve a veia poética e os sonhos de um dos Juristas mais destacados que o Brasil conheceu, Theotonio Negrão:
"Muito jovem, anseia por um grande amor, desenhando em poemas desatinos românticos, a morte ideal, à beira-mar, ao lado da amada. Mais tarde, por meio de trovas e outros versos dirige-se carinhosamente à filha (...). Brinca com o cotidiano (...)pasmem, com seu objeto de trabalho: "a vida explodindo lá fora, e eu, aqui dentro, citando o Código Civil e Pontes de Miranda!..."
Ora, por que não dizer que todo advogado é poeta? Se eu, na minha meninice acalentava essa pretensão, poderia sim ter usado de audácia e dedicação para elaborar o "Código de Processo Civil Comentado" ou o "Código Civil"!
Não, para o tempo presente me resta apenas rascunhar sonetos.

Assim, permito-me transcrever pequeno trecho do poema ANO XVIII MESSIDOR, da obra "Todo Homem é uma Constelação", soboreiem:
"Por toda parte que passei, semeei
o grão maravilhoso do meu sonho.
De fantasmas povoei, e de visões ardentes o vazio de minha alma.
Do meu coração a inebriante seiva do lirismo mais terno.
E o abri de par em par, para que o visse a humanidade inteira.
E amei, e amei! E, nesta ânsia doida, fui feliz, fui feliz"!
(...)

Ao Ilustre Poeta aqui referido, meu encanto e modesta homenagem, dessa que também sonhou em ser poeta, porém da lança, da pena e da advocacia ainda não se libertou!!
Nossa gratidão e inenarrável admiração por tão grande Jurista que bela herança e exemplo nos deixou!
Nosso abraço, Eminente
THEOTONIO NEGRÃO
* Obra disponível na Associação dos Advogados de São Paulo.